É Virgílio quem adverte o jovem Dante, caminhando pelas trilhas do Purgatório: "A inveja vos atormenta, porque os vossos desejos olham àqueles bens terrenos, dos quais tanto mais o gozo diminui quanto mais são os que nele participam. Se o amor da suma esfera encaminhasse os vossos desejos para o alto, não teríeis no coração o receio que outrem pudesse diminuir um instante o vosso gozo; naquele claustro, isto é, no Céu, ao contrário da Terra, quanto são mais a gozar de um mesmo bem, tanto mais cada um goza. (...) Quanto maior é o número dos que no Céu amam, tanto mais ocasião vos é de amar com santo amor, bem como espelho um ao outro refletindo". (A Divina Comédia, II.xv)
Uma pessoa é uma voz. Uma voz custa a envelhecer. Uma voz é sempre pergunta ou resposta, saudação ou despedida, grito ou silêncio. Uma voz também é silêncio. A voz clama no deserto, e busca um eco, um eco, um eco. Clama na cidade, e é sufocada por tantos ruídos. A voz conversa sempre com a Voz.