Isso aconteceu no final de 2006. O tempo passa, mas ainda ressoa a beleza desta humana sinfonia.
Na última terça-feira (21/11), minha mãe Vanira, levantou mais
cedo que de costume.
Sentou na cadeira da sala de jantar e puxou uma conversa leve e
descompromissada com meu pai. Surpreso com sua presença
inesperada, seu Jorge, o "preto" como era carinhosamente chamado
por ela, esticou o bate-papo.
Minutos depois, ela reclamou de uma dor no peito e foi se deitar.
Ele a acompanhou.
Ao lado da cama, a frase inesperada: "Preto, me perdoe. Me perdoe
pelas palavras ásperas e pelas dores que lhe causei nesses anos juntos
(quarenta e seis, pra ser mais exato).
"Eu é que te peço perdão!", ele respondeu.
Foram as últimas palavras de minha mãe.
Naquele quarto apertado de uma casa pequena e simples perdida
na periferia da grande cidade uma obra de rara beleza foi executada.
O tema? A Sinfonia do Perdão.
Aqui nesse mundinho fétido, apenas dois seres que se amaram
e que foram cúmplices e parceiros de vida ouviram-na em toda
a sua exuberância.
No céu, míriades de anjos e Seu Grande Compositor testemunharam-na.
Minhas lágrimas apenas captaram o eco de seus últimos acordes e
registraram-na em minha alma como a mais linda obra musical que
eu ouvi em toda a minha vida.
por Jorge Camargo
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