Assim como a voz aprende o silêncio, Assim como o olho aprende a não ver Assim minha mão aprende o aceno E minha cabeça aprende a esquecer. Assim como a pele sente o que é frio, Assim como o vôo sente o que é chão, Assim o meu pé aprende a escada E o próximo passo paira no vão E faz sua pausa discreta o meu coração. Todo dia tem novidade na feira, Todo dia tem novidade no front, Todo dia alguém vai subir a ladeira, Todo dia alguém vai cantar no odeon, Todo dia o show recomeça no circo, Todo dia dorme este velho leão, Todo dia pausa discreto o meu coração. Assim como o ócio aprende o ofício, Assim como a arte aprende a vender, Assim o meu riso aprende o ocaso E o meu descanso aprende a correr. Assim como o dia brinca de noite, Assim como a lua brinca de sol, Assim a poeira pousa de estrela E o vagalume sonha um farol, Eu sonho que sou apenas um rouxinol.
Uma pessoa é uma voz. Uma voz custa a envelhecer. Uma voz é sempre pergunta ou resposta, saudação ou despedida, grito ou silêncio. Uma voz também é silêncio. A voz clama no deserto, e busca um eco, um eco, um eco. Clama na cidade, e é sufocada por tantos ruídos. A voz conversa sempre com a Voz.