Gosto de apresentar velhos poemas a novos e velhos amigos. Bate o sino ao longe E o coração mendigo geme Porque o som distante lhe traz a falta. Falta do que mesmo? Falta do não vivido, Do jamais tocado, Do infinito nada, Da existência atempo, A que nunca houve, E até da que era uma vez Mas findou-se. Bate o coração ao longe E perto do mendigo o sino, A catedral, O vitral misterioso, O cheiro da eternidade, A sombra do templo, O sagrado. E o que falta mesmo? Falta nada. Tudo se completa No mínimo instante Em que um sino ausente toca Para um coração vazio.
Uma pessoa é uma voz. Uma voz custa a envelhecer. Uma voz é sempre pergunta ou resposta, saudação ou despedida, grito ou silêncio. Uma voz também é silêncio. A voz clama no deserto, e busca um eco, um eco, um eco. Clama na cidade, e é sufocada por tantos ruídos. A voz conversa sempre com a Voz.